[caption id="attachment_1933" align="alignleft" width="300"] Marina Colasanti, Gregório Filho e Affonso Roman...
[caption id="attachment_1933" align="alignleft" width="300"] Marina Colasanti, Gregório Filho e Affonso Romano de Sant'anna chegam à Praça da Leitura , no Lercon 2013 - Fotos: SE[/caption]
O blogue da Releitura pediu e Fabi, jornalista, escritora, atriz, contadora de histórias e mediadora de leitura na Biblioteca Popular do Coque, escreveu uma bela crônica sobre sobre a experiência do Lercon 2013 - Congresso de Leitura e Contação de Histórias de Pernambuco.
Sob o tema A Leitura Muda a Nossa Vida, o evento, em sua segunda edição, teve o apoio da nossa Rede, via Instituto C&A, cujo programa Prazer em Ler integramos - aqui no blogue. Aconteceu dias 09 e 10 últimos, no Centro de Convenções Olinda/Recife~.
Trouxe convidados ilustres, dentre eles o casa- escritor, Affonso Romano de Sant'anna e Marina Colasanti, responsáveis pelas palestras de abertura e encerramento, respectivamente; e o contador de histórias Gregório Filho.
A gente conta mais depois. Por enquanto, degustemos o texto de Fabi, cujas linhas e entrelinhas, outras, são traçadas, também, em seu blogue Palavras-pontes, cujo acesso recomendamos.
[caption id="attachment_1934" align="alignright" width="300"] Marina atenta à fala do marido-escritor-palestrante. Ao seu lado, o organizador do Lercon, professor Hugo Monteiro[/caption]
Bons poetas e contadores de histórias, assim como os bons livros, passam por nós deixando rastros na alma. Ou melhor, não passam. Deixam um pedaço deles em forma de palavra que não se apaga...
O contador de histórias Gregório Filho, do Rio de Janeiro, é um deles. Chega como um sopro leve, com suas barbas longas, seu jeito calmo, sua melodia... Espera que o silêncio se instale para, só então, sussurrar uma canção. Canção que nos traz doces lembranças, que cava um nó em nosso peito e prepara o coração para a história que vem.
E ela vem doce como um murmúrio de águas... A avó, a cercar-se dos netos para cortar os panos, cozer toalhinhas, bordá-las com as fases da lua, passá-las a ferro, guardá-las... e esperar a chegada da lua que transformaria em mulher a menina neta. E, nesta lua, todos comemorariam e lavariam no rio a toalhinha, vendo correr a água escarlate. Por que no mundo inteiro, todas as mulheres borram as toalhinhas e anunciam o início do ciclo da fecundação.
Uma história que chama outra, desta vez soprada por voz feminina:
"Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Os homens vertem sangue por doença ,sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar, trancar no escuro emaranhado das artérias.
Em nós o sangue aflora como fonte, no côncavo do corpo. Olho-d'água escarlate, encharcado cetim que escorre em fio.
Nosso sangue se dá de mão beijada, se entrega ao tempo como chuva ou vento.
O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha, respinga nas bandeiras, mancha a história.
O nosso vai colhido em brancos panos, escorre sobre as coxas, benze o leito manso, sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Pois há um sangue que corre para a Morte.
E o nosso que se entrega para a Lua"
Quando recitou esse poema, na manhã da sexta-feira, no Lercon, conduzida ao microfone pelo contador de histórias de longas barbas, Marina Colasanti anteciparia um pouco do que viria mais tarde, no encerramento do evento.
Elegante e bela, de passos leves como a andar sobre nuvens e um sorriso como janela do coração, ela subiu ao palco para falar de livros. Não como quem escreve resenhas. Mas como quem sofre de um encantamento contagioso. E, encantada, ela descreve seus heróis, suas florestas tropicais, seus esconderijos secretos, suas viagens e viajantes... todos visitados em páginas literárias. E cada um dos que a escutam vai enchendo a alma de histórias e livros.
E o desfecho não poderia ser outro que não uma história de amor. Amor que ela expressa não apenas pelos livros, mas pelas pessoas, pela vida, pelo mundo... Amor que ela expressa em seu olhar cúmplice para o companheiro e poeta Affonso Romano de Sant'anna. Amor que ela anuncia no conto que vem por aí, e que ela antecipou para nós: uma mulher que espera a volta de seu amado. Sempre, da mesma forma, no mesmo lugar, espera. A cada dia, lança um fio de seu cabelo ao mar para que sirva de mensageiro ao seu amado. E um dia, ao lançá-lo às águas, a lua ilumina o prateado do fio. O mar se compadece e reúne todos eles, formando uma imensa corda de fios de cabelos, por onde ela caminha em direção ao seu amado...
Do Lercon, guardarei muitos ensinamentos. Mas estas duas lembranças lançarão longas raízes: um homem de longas barbas a juntar silêncios, canções e histórias; e uma linda mulher a falar histórias de amor: pelos livros, pelo companheiro, pela vida...
O blogue da Releitura pediu e Fabi, jornalista, escritora, atriz, contadora de histórias e mediadora de leitura na Biblioteca Popular do Coque, escreveu uma bela crônica sobre sobre a experiência do Lercon 2013 - Congresso de Leitura e Contação de Histórias de Pernambuco.
Sob o tema A Leitura Muda a Nossa Vida, o evento, em sua segunda edição, teve o apoio da nossa Rede, via Instituto C&A, cujo programa Prazer em Ler integramos - aqui no blogue. Aconteceu dias 09 e 10 últimos, no Centro de Convenções Olinda/Recife~.
Trouxe convidados ilustres, dentre eles o casa- escritor, Affonso Romano de Sant'anna e Marina Colasanti, responsáveis pelas palestras de abertura e encerramento, respectivamente; e o contador de histórias Gregório Filho.
A gente conta mais depois. Por enquanto, degustemos o texto de Fabi, cujas linhas e entrelinhas, outras, são traçadas, também, em seu blogue Palavras-pontes, cujo acesso recomendamos.
Histórias que ficam
por Fabiana Coelho
[caption id="attachment_1934" align="alignright" width="300"] Marina atenta à fala do marido-escritor-palestrante. Ao seu lado, o organizador do Lercon, professor Hugo Monteiro[/caption]
Bons poetas e contadores de histórias, assim como os bons livros, passam por nós deixando rastros na alma. Ou melhor, não passam. Deixam um pedaço deles em forma de palavra que não se apaga...
O contador de histórias Gregório Filho, do Rio de Janeiro, é um deles. Chega como um sopro leve, com suas barbas longas, seu jeito calmo, sua melodia... Espera que o silêncio se instale para, só então, sussurrar uma canção. Canção que nos traz doces lembranças, que cava um nó em nosso peito e prepara o coração para a história que vem.
E ela vem doce como um murmúrio de águas... A avó, a cercar-se dos netos para cortar os panos, cozer toalhinhas, bordá-las com as fases da lua, passá-las a ferro, guardá-las... e esperar a chegada da lua que transformaria em mulher a menina neta. E, nesta lua, todos comemorariam e lavariam no rio a toalhinha, vendo correr a água escarlate. Por que no mundo inteiro, todas as mulheres borram as toalhinhas e anunciam o início do ciclo da fecundação.
Uma história que chama outra, desta vez soprada por voz feminina:
"Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Os homens vertem sangue por doença ,sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar, trancar no escuro emaranhado das artérias.
Em nós o sangue aflora como fonte, no côncavo do corpo. Olho-d'água escarlate, encharcado cetim que escorre em fio.
Nosso sangue se dá de mão beijada, se entrega ao tempo como chuva ou vento.
O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha, respinga nas bandeiras, mancha a história.
O nosso vai colhido em brancos panos, escorre sobre as coxas, benze o leito manso, sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Pois há um sangue que corre para a Morte.
E o nosso que se entrega para a Lua"
Quando recitou esse poema, na manhã da sexta-feira, no Lercon, conduzida ao microfone pelo contador de histórias de longas barbas, Marina Colasanti anteciparia um pouco do que viria mais tarde, no encerramento do evento.
Elegante e bela, de passos leves como a andar sobre nuvens e um sorriso como janela do coração, ela subiu ao palco para falar de livros. Não como quem escreve resenhas. Mas como quem sofre de um encantamento contagioso. E, encantada, ela descreve seus heróis, suas florestas tropicais, seus esconderijos secretos, suas viagens e viajantes... todos visitados em páginas literárias. E cada um dos que a escutam vai enchendo a alma de histórias e livros.
E o desfecho não poderia ser outro que não uma história de amor. Amor que ela expressa não apenas pelos livros, mas pelas pessoas, pela vida, pelo mundo... Amor que ela expressa em seu olhar cúmplice para o companheiro e poeta Affonso Romano de Sant'anna. Amor que ela anuncia no conto que vem por aí, e que ela antecipou para nós: uma mulher que espera a volta de seu amado. Sempre, da mesma forma, no mesmo lugar, espera. A cada dia, lança um fio de seu cabelo ao mar para que sirva de mensageiro ao seu amado. E um dia, ao lançá-lo às águas, a lua ilumina o prateado do fio. O mar se compadece e reúne todos eles, formando uma imensa corda de fios de cabelos, por onde ela caminha em direção ao seu amado...
Do Lercon, guardarei muitos ensinamentos. Mas estas duas lembranças lançarão longas raízes: um homem de longas barbas a juntar silêncios, canções e histórias; e uma linda mulher a falar histórias de amor: pelos livros, pelo companheiro, pela vida...